Metodologia

Dogme's Way
Todas as informações do texto abaixo foram extraídas do livro Teaching Unplugged – Dogme in English Language Teaching

De uma forma muito panorâmica, Dogme ELT (English Language Teaching) pode ser considerado tanto uma metodologia de ensino quanto um movimento, uma atitude em relação à aquisição de um idioma num ambiente mediado por um professor. Suas raízes estão num artigo de Scott Thornbury, que, por acaso, assistiu a um filme do movimento de cinema dinamarquês chamado Dogme 95, cujo manifesto começava com a seguinte promessa:

“A filmagem deve ser feita na locação. Adereços e cenários não devem ser trazidos para a locação - se um adereço em particular é necessário para a história, deve-se escolher uma locação onde o adereço possa ser encontrado.”

O manifesto desse movimento inspirou Thornbury a encontrar respostas para questionamentos que já vinha fazendo em relação ao ensino de inglês, principalmente a uma tendência contemporânea de colocar uma ênfase excessiva no uso de materiais didáticos, tecnologias e atividades previamente preparadas pelo professor. Toda a interação na sala de aula acabava sendo mediada através de materiais e assuntos importados de fora da sala de aula, alheios aos alunos e ao professor. A sala de aula estava repleta de atividades, mas carente de oportunidades.

Assim, o primeiro mandamento do artigo que provoca o Dogme ELT é:

“O ensino deve ser feito usando somente os recursos que professores e alunos trazem para a sala de aula eles próprios e o que mais esteja na sala de aula.”

Outro personagem importante no desenvolvimento dessa metodologia, Luke Meddings, também já estava buscando uma nova abordagem ao ensino de inglês baseado na sua própria experiência e nas transformações do mundo contemporâneo. Meddings acreditava que uma aula deveria ser uma experiência vital, irrepetível e espontânea. Meddings chama a atenção para um documento criado pela Comunidade Econômica Europeia para orientar um continente com tantos idiomas chamado Common European Framework of Reference For Modern Languages, onde o ensino de línguas é resumido como:

“satisfazer... as necessidades de comunicação, permitindo aos alunos trocar informações e ideias... e comunicar seus pensamentos e sentimentos.”

Meddings aponta também que hoje muitos alunos vem até o professor com seu inglês e não para adquirir inglês.

Dogme é então “um movimento desenvolvido por um grupo de professores de inglês que desafiam o que eles consideram ser um excesso de confiança em materiais e magia tecnológica no atual ensino de idiomas. A ênfase no aqui e agora exige que o professor concentre-se no aluno real na sua frente e no conteúdo que é relevante para ele.”

Este é então um panorama muito breve sobre Dogme ELT, mas se você quiser saber um pouco mais, seguimos com mais algumas ideias importantes e mais detalhes.

Dogme ELT não surgiu do nada, tendo buscado inspiraçãos em muitas fontes, entre elas as seguintes:

“Educação é comunicação e diálogo. Não é a transferência de conhecimento.”
(Paulo Freire)

“O sucesso depende menos de materiais, técnicas e análises linguísticas, e mais de o que acontece dentro e entre as pessoas na sala de aula”.
(Earl Stevick)

“Para realmente ensinar, deve-se conversar; conversar verdadeiramente é ensinar.”
(Roland Tharp e Ronald Gallimore)

“Um bom professor não pode estar preso a uma rotina... Durante o ensino, cada momento exige uma mente sensível que esteja constantemente mudando e constantemente adaptando-se.”
(Bruce Lee).

Desde o início dos debates sobre como Dogme seria aplicado na prátia ao ensino de inglês, no início do ano 2000, dez princípios fundamentais foram adotados:

- a rota mais direta de aprendizado é através da interatividade entre professores e alunos e entre os próprios alunos;

- o conteúdo que mais provavelmente vai engajar os alunos e acionar o processo de aprendizagem é aquele que já está presente, trazido pelas pessoas que estão na sala de aula;

- o aprendizado é um processo social e dialógico, através do qual o conhecimento é construído cooperativamente ao invés de transmitido ou importado do professor para o aluno;

- o aprendizado pode ser mediado através da conversa, especialmente uma conversa que é guiada e amparada pelo professor;

- ao invés de ser adquirido, o idioma (incluindo a gramática) emerge: é um processo orgânico que ocorre dadas as condições apropriadas;

- a função primária do professor, além de promover o tipo de dinâmica que seja condizente com uma pedagogia dialógica, é otimizar o aprendizado dos recursos linguísticos, por exemplo, direcionando a atenção para características da linguagem emergente;

- abrir espaço para a voz do aluno significa aceitar que as crenças, conhecimentos, experiências, preocupações e desejos dos alunos são conteúdos válidos no ambiente da sala de aula;

- libertar a sala de aula de materiais de terceiros importados dá mais poder tanto para o professor, quanto para o aluno;

- textos, quando utilizados, devem ser relevantes para o aluno, tanto no contexto do aprendizado quanto do uso prático;

- professores e alunos precisam se descarregar da bagagem ideológica associada a materiais de ensino de inglês para tornarem-se usuários críticos de tais materiais.

Desses princípios surgem os três principais preceitos:

- Dogme é um ensino promovido pela conversa.

- Dogme é um ensino que pega leve nos materiais.

- Dogme é um ensino que foca na linguagem emergente.


Sobre o primeiro preceito, a conversa deve ser considerada como o idioma em funcionamento e deve ser utilizada e considerada como um discurso, um todo em contexto que não deve ser desmembrado ou praticado com elementos isolados. A conversa deve ser interativa e dialógica. Quando os alunos estão se comunicando, a comunicação deveria ser, acima de tudo, sobre eles próprios. Assim, a conversa verdadeira diferencia-se de simples comunicação, de um uso simplesmente instrumental do idioma. Situações não planejadas ou não estruturadas podem às vezes criar oportunidades de aprendizado muito mais efetivas, naturais e memoráveis. O professor estrutura e apoia a conversa somente tanto quanto necessário para o aprendizado, e essa estrutura deve ser temporária e removida à medida que a linguagem do aluno emerge.

Quanto ao segundo preceito, Dogme não é totalmente contra o uso de materiais. Dogme é a favor do uso crítico de materiais, crítico no sentido de julgar se o material é realmente necessário e relevante, e crítico no sentido de avaliar o material e seu conteúdo criticamente. O material não deveria ser utilizado como pretexto para o ensino de algum ponto gramatical; isto quer dizer que o material não deve ser selecionado aleatoriamente, pré-modificado e pré-digerido à revelia de sua relevância ou utilidade para o aluno. Se um material autêntico é relevante e útil para um aluno e também serve para chamar a atenção para algum recurso linguístico, ele pode ser incluído na aula. Outro cuidado é com o sub-texto, ou valores educacionais e culturais embutidos que não tenham relevância para as necessidades do aluno. Uma forma de usar tais materiais criticamente é sempre incluir contexto ou buscar diferentes contextos, promovendo discussões sobre o conteúdo do ponto de vista do autor, mas sempre também dos alunos e sua cultura. Os materiais devem ser autênticos em utilizados em sua totalidade tanto quando possível.

Finalmente, em relação ao último preceito, a linguagem deve ser tratada como algo emergente, muito menos cobrir conteúdos e muito mais descobrir os conteúdos que surgirão naturalmente se o ambiente promover oportunidades para que isto aconteça. Obviamente, cada caso, cada aluno, deve ser considerado individualmente porque algumas vezes a necessidade do aluno pode ser fazer um exame de competência, caso no qual o processo de aprendizagem vai ser menos espontâneo que no caso de um aluno que quer se comunicar no idioma. Se o aluno é o foco da aula, do aprendizado, há um menor interesse em que aluno aprenda uma totalidade de conteúdo e um maior interesse em auxiliar o aluno a conquistar as competências que ele precisa.

Meddings, Luke; Thornbury, Scott. Teaching Unplugged – Dogme in English Language Teaching. Peaslake, UK: Delta Publishing, 2009. ISBN 978-1-909783-03-4