Manifesto

My Way

Tenho seguido os preceitos do Dogme ELT nas minhas aulas desde 2014 e ainda me surpreendo com os resultados positivos.

Talvez não devesse me surpreender, pois uma abordagem que coloca o aluno e o professor como o principal conteúdo da aula, ao invés de um material ou um currículo, permanece sempre atual, eficiente e relevante, pois está livre para acompanhar as pessoas que a estão utilizando. As pessoas não seguem a metodologia; a metodologia segue as pessoas.

Como normalmente não utilizo material didático (livros didáticos, por exemplo), costumo solicitar que meus alunos tenham um caderno para fazer anotações e eu costumo usar páginas de papel em branco para fazer anotações durante a aula, além de trazer textos ou outros materiais que seleciono de diversas fontes. O resultado disto, é que após um período de aulas, acumulamos um tanto de material, ou seja, não seguimos um material, mas sim produzimos o nosso material. A diferença é que esse material em sua totalidade é relevante para o aluno e para o professor, além de ser único.

Não existe ninguém que não tenha uma necessidade, uma vontade, um desejo, uma dificuldade, ou um desafio. E é exatamente este o material mais importante dentro de uma sala de aula. É a partir desse elemento de desequilíbrio que a interação entre professor e aluno acontece em busca de um equilíbrio que só pode ser atingido através de um recurso linguístico.

E é extremamente importante salientar que o desequilíbrio não está presente somente do lado do aluno; ele também é fundamental do lado do professor. Meu objeto de trabalho como professor não é o ensino, é sim o aprendizado. Eu estudo e reflito sobre ensino para poder promover o aprendizado, tanto do aluno quanto meu próprio. Tenho muito a aprender e preciso muito que o aluno me ajude a aprender sobre assuntos que domina. 

O verdadeiro ensino, então, acontece através de um desequilíbrio mútuo entre os recursos linguísticos do aluno e os diversos recursos dos quais o professor é extremamente carente. Nessa satisfação mútua de necessidades, numa conversa em inglês, numa interação dialógica, o aprendizado de fato ocorre.

Quando conheci essa abordagem em um curso para professores em Londres em 2014, discutíamos sobre as diferenças entre essa metodologia e outras mais difundidas. Naquela data, disse algo intuitivamente que comprovei na prática ser muito verdadeiro. No Dogme ELT, o professor não prepara a aula, ele se prepara. Nessa aboradagem não é possível, na verdade não é coerente, antecipar-se ao aluno e decidir a priori o que vai acontecer. Muitas e muitas vezes até selecionei um material relevante ou pensei sobre o que acharia produtivo abordar para chegar na aula e acabar discutindo ou trabalhando com algo completamente diferente. Também costumo dizer que acho que complicado pensar sobre a aula no dia anterior, porque não sei o que será notícia ou que estará acontecendo no dia seguinte.

Isto exige do professor um repertório muito grande de recursos linguísticos com os quais ele esteja confortável em trabalhar e um repertório ainda maior de conhecimentos gerais. Entretanto, não há motivo para pânico na crença de que o professor deva estar conhecedor de tudo; lembre-se que o desequilíbrio é importante dos dois lados e um não-saber do professor pode ser ponto de partida para uma aula muito interessante. O preparar-se do professor é importante porque até mesmo a ignorância precisa ser sábia. O professor precisa saber ser ignorante de forma produtiva e madura no ambiente da sala aula.

Contudo, é importante fazer uma ressalva. Um professor que utiliza uma abordagem que coloca o aluno no cerne de seu processo deve estar pronto para até mesmo abrir mão dessa abordagem quando ela não for produtiva no contexto de uma aula ou aluno específico. Nenhuma metodologia, movimento, ou abordagem é tão boa assim que justifique sacrificar o propósito primeiro da aula, a satisfação de uma necessidade linguística do aluno. Acredito muito no que faço e tenho muito bons resultados com Dogme ELT, mas estou preparado para buscar uma alternativa se for necessário.